Na Igreja da Porciúncula, estava São Francisco a rezar e, durante sua oração, foi-lhe revelado que fosse ao Papa Honório III e pedisse a indulgência para esta capelazinha que o próprio Francisco reformou. No diálogo com o Papa, o Seráfico Pai então se expressou: “Quereria, se assim vos aprouver, que todo aquele que vier a esta Igreja, confessado e contrito, seja absolvido de todos os seus pecados, da culpa e da pena, no céu e na terra, desde o dia do batismo até o dia e a hora em que entrar nesta Igreja”1.

São Francisco de Assis, deste modo, faz o pedido para que a chamada “Indulgência do Perdão de Assis ou da Porciúncula” não se restrinja só a ele e a seus frades, mas a todo ser humano, para que todos façam a experiência da misericórdia de Deus. Assim procede porque ele se percebeu amado pelo “Onipotente, eterno, justo e misericordioso Deus”2, o mesmo Senhor que mostrou sua fidelidade, ainda que os seres humanos lhe fossem infiéis à Aliança.
O jovem de Assis se apaixona pelo Deus capaz de se fazer pequeno na fragilidade de uma criança, morrer por ele e por todos no alto da Cruz e ocultar-Se sob as aparências do vinho e do pão na Eucaristia. São Francisco aprendeu a enxergar suas lepras, símbolo de toda carência que trazia em seu coração, a partir de Jesus, o Senhor que se deixou ferir por amor ao Pai e aos homens. Viu que, mesmo que ele trouxesse lepras, Jesus estava disposto a fazer o caminho de reconciliação.
O Perdão de Assis, neste sentido, torna-se uma oportunidade para nossa experiência com a Misericórdia divina. É expressão do modo como São Francisco construiu sua relação com Deus e de como podemos estabelecer a nossa. Jovem cheio de sonhos, Francisco tenta viver seu sentido de vida mediante a guerra, mas enfrenta o amargor da derrota. Aprende a aprofundar o sentido de sua história e irá encontrá-lo, verdadeiramente, em Jesus. Francisco, após seu encontro com o Senhor, entenderá que a legítima realização se dá na entrega da vida, tal como o Deus Todo-Poderoso se fez pobre e pequeno para se entregar por nosso amor.
Ferido pelo amor do Criador, Francisco passará a ver a Deus em todas as situações. Experimentará esse amor que envolve todo ser, de modo especial o ser humano. Assim, todas as suas dimensões serão transformadas pelo Senhor. No fim de sua vida, será um homem reconciliado com Deus, consigo, com os irmãos e com a criação. Viverá o perdão e a conversão, temas que sempre estarão presentes em suas pregações e nas de seus frades. E, querendo que esse encontro transformador chegasse a todos, pedirá que a indulgência da Porciúncula seja destinada a todo homem e mulher deste mundo que, buscando sua conversão, abra-se a este Amor profundo de Deus por cada um de nós. Aproveitemos essa oportunidade que a Igreja nos dá para nos aproximarmos desta misericórdia que nos restitui a vida, cura nossa ferida e coroa nossa busca de sentido.
1 VERBETE PORCIÚNCULA. Dicionário Franciscano. Trad.: Almir Guimarães e Edinei da Rosa Cândido. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 604.
2 FONTES FRANCISCANAS. Escritos. Santo André: Mensageiro de Santo Antônio, 2020, p. 103.
