Frequentemente me perguntam se eu acho que o mundo tem jeito, se estamos caminhando para o colapso e não temos mais saída, se realmente vale a pena agir já que tudo está destruído. Como uma boa engenheira ambiental que trabalha com mudança do clima que sou, logo me vem na cabeça um turbilhão de números, projeções, notícias, falas, que vão nessa direção mais catastrófica. Mas paro e respiro fundo e tento extrair lá no fundo do peito uma palavra: esperançar.
Em um mundo de individualismo e de policrises (crise climática, ambiental, social, política, econômica…), muitas vezes nos vemos incapazes de agir, e somos tomados pela desesperança. Mas São Francisco nos mostra que a esperança se renova e se concretiza no coletivo, na fraternidade. “O Senhor me deu irmãos, e depois disso ninguém mais me disse o que eu precisava fazer”. O jovem de Assis nos ensina a viver o Evangelho a partir do Irmão, criando espaços de paz. É no encontro verdadeiro com o outro que a alegria que brota da alma é renovada e nos impulsiona a agir.
Renovo a minha esperança quando vejo uma pessoa pegando um lixo do chão ou recusando uma sacola plástica. No grito do manifestante que luta por seus direitos e pelos direitos da natureza. Na notícia sobre o aumento da espessura da camada de ozônio. Nos projetos socioambientais de impacto positivo. Quando vejo pessoas discutindo em quem votar considerando a posição da/o candidata/o sobre a mudança do clima. No olhar admirado de uma criança ao segurar um bichinho com cuidado e amor.
Precisamos acreditar que podemos construir a paz a partir das pequenas coisas. Tijolo por tijolo. A política da paz transforma a sociedade. E em último caso, quando não for possível agir, em um mundo de desesperança, sonhar já é um ato revolucionário. Enquanto houver o sonho de um mundo melhor, há de se ter esperança e há de se ter ação.
Estamos na década da ação. Isso significa que não temos mais tempo a perder, precisamos agir urgentemente em prol dos que mais sofrem com as mazelas da nossa sociedade. “Todos nós podemos cooperar como instrumentos de Deus para o cuidado da Criação, cada um de acordo com sua própria cultura, experiência, envolvimento e talentos” (Laudato Si’, 14).
Não sabe como agir? Na edição passada, escrevi algumas ideias práticas, agora deixo como indicação a Plataforma de Ação Laudato Si’, uma ferramenta prática para nos guiar em uma jornada rumo à ecologia integral. Orientada pelos ensinamentos do Papa Francisco, a Plataforma ajuda a criar um “plano de ação Laudato Si’” estruturado e personalizado de acordo com a sua região, auxiliando a selecionar ações mais eficazes para causar grande impacto. Pode ser utilizada por famílias, instituições, igrejas, etc.
Convido você a acessar em plataformadeacaolaudatosi.org , e criar o seu próprio plano de ação, possibilitando mais espaços de paz e esperança.
Paloma Capistrano Pinheiro
Franciscana, Animadora Laudato Si’, Engenheira Ambiental e Urbana, Mestranda em Ciências Ambientais e Mudança do Clima no PROCAM/IEE/USP, Coordenadora de Clima no Pacto Global da ONU – Rede Brasil, membro do Grupo de Trabalho de Cidades Sustentáveis da Sustainable Business COP30 (SB COP).
