
A jornada humana é marcada por diversas finitudes que nos causam um grande espanto e medo. Uma das mais terríveis que estremece o coração humano é a dimensão da morte.
Voltando-nos para nosso pai São Francisco encontramos paz em suas palavras perante tanto temor frente à morte. No Cântico do Irmão Sol relembra da inevitabilidade da primeira morte: a morte corporal da qual homem algum pode escapar. No entanto, São Francisco nos alerta para termos um verdadeiro temor não para com essa primeira morte, mas para com aquela que realmente pode nos tirar a vida, que ele chama de segunda morte. Esta sim não será somente uma “passagem” como a primeira, mas um ponto final no qual chegamos e não encontramos o verdadeiro sentido da vida: viver eternamente em comunhão com nosso Deus.
O encontro amoroso com Nosso Senhor, para ouvir as doces palavras que irão sair de seus lábios: “Vinde bendito de meu Pai” (Mt25,34). Penso que será como a alegria da criança que ouve a voz da mãe e tem a certeza do amor que receberá por parte desta. Será uma eterna alegria.
A causa da segunda morte, desta que realmente nos separa do nosso fim último, é o pecado mortal, isto é, viver distante da vivência do amor, apegado a si e àquilo que possa satisfazer uma vida vazia. Será a morte que levará ao verdadeiro aniquilamento, ao vazio existencial para sempre. Não será um lugar, mas um estado de vida. Que triste!
Escrevendo estas linhas trago em minha memória a morte do nosso querido Papa Francisco. Viveu a partir da alegria do Evangelho e teve uma vida que ecoava a certeza de que fomos atingidos pelo amor gratuito de Deus, o qual devemos acolher com o coração eternamente agradecido.
Recebemos do Filho a Boa Notícia do Reino, do qual podemos fazer memória diariamente na sua carta de amor, a Palavra de Deus, na experiência riquíssima do memorial de nossa salvação na liturgia, e vivendo esta experiência de ser amados incondicionalmente experimentando na carne a capacidade de amar, até o último grau, o amor aos inimigos, aos pobres que nada podem nos devolver, identificando–se assim com Nosso Senhor, o Bom Samaritano por excelência.
Neste espírito que saudosamente lembramos, o desejo do Papa Francisco de uma Igreja pobre com os pobres: samaritana, em saída, que seus pastores tivessem o cheiro das ovelhas, capaz de acolher os caídos nas estradas da vida, preocupada com os imigrantes, com o cuidado da casa comum, incansável militante na construção da paz, uma Igreja misericordiosa.
O Papa viveu assim até o momento final de sua vida, despojado, desapegado dos penduricalhos do poder, dos bens que poderia usufruir. Em seu testamento descreveu como deveria ser seu enterro, com sinais de simplicidade como foi sua vida. A irmã morte deveria acolhê–lo como viveu a vida. São Francisco pediu para que seus irmãos o colocassem nu na terra. Paz e bem!
Frei Carlos Alberto, OFMConv – Pároco Reitor do Santuário Senhor do Bonfim
